No Paraíso… em Brunhoso
Ao
meu bom amigo Francisco Ribeiro, como um irmão.
Subimos
juntos, ou pelo menos à vista, as ladeiras da vida.
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Lembras-te Francisco, quando éramos tão piquenos e íamos com as vitelas por
esse termo fora à procura do fnanco para elas comerem!
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Lembras-te de irmos para a Malhada, para Francos, para a Lagariça! Sempre atrás
delas e aguardá-las para não irem a fazer mal aos lameiros, onde se estava a
criar a erva para o feno!
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Lembras-te de só as deixarmos comer a erva das bordas dos trigos da
Malhada.
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Lembras-te Francisco quando entrámos à escola, com a saquitinha com a lousa, o
giz e os livrinhos. Logo no primeiro dia fiquei de castigo porque no Livro da
1ª Classe tinha as figuras do cão, do gato …, e quando abri o livro comecei
logo a imitar as vozes desses animais. Ão, ão … miau, miau… quá-quá! Isto tudo maravilhado
e alto e bom som, o que provocou a risada geral da escola da professora
Fernanda, da sala dos rapazes. E quando perguntou, que animal é este, e em coro
todos respondemos – É um parreco! E ficámos todos de castigo, porque era um
pato, é assim que se devia dizer!
E
da novidade da retrete, lembras-te Francisco!
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Lembras-te Francisco, quando faleceu o Sr. Padre Zé, que fomos em cruzada até
Soutelo ao seu enterro! Lembras-te quando lhe ajudávamos à missa e nos
responsos nos dava sempre uns tostõezinhos para arrebuçados!
E
na catequese com a Teresa Piquena! Lembras-te Francisco? - Lembras-te da
segunda classe com a Dona Carminda, que a meio do ano nos deixou para ir para a
África. Lembras-te Francisco da Dona Adriana, tão brava, que a veio substituir
e uma vez nos marcou os deveres da tabuada – Uma vez a tabuada do um, duas
vezes a tabuada do 2, três vezes a tabuada do três e sucessivamente…
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Lembras-te Francisco, da régua e da vara da Dona Amélia… E daquela surra que
deu ao Joaquim Coleila, por não saber, já não sei o quê! E do Joaquim Pitreca,
que também levou tantas vezes, sem falar do falecido António Miguel, do António
Pitotas, do Francisco Marcos, do António Garruncha, só para falar dos da nossa
idade! Lembras-te do Francequinho Cordeiro, do Emídio, como éramos tão
pequeninos e já levávamos pela medida grossa. - Lembras-te Francisco quando
íamos à Serra a esperar a professora! E quando plantámos as árvores no recreio,
que algumas ainda hoje lá estão (agora já não há meninos na escola de
Brunhoso)!
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Lembras-te Francisco, quando antes das nove horas, no tempo das castanhas,
irmos à Serra a dar a volta e apanhar as castanhas que havia no chão. E que
quando aparecia a Guarda, todos fugíamos para o povo, apesar de andarmos nos
nossos castanheiros e por conseguinte não andarmos a roubar.
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E quando fizemos a quarta classe, que fomos à vila, a cavalo nas bestas. E no
intervalo de duas provas, a minha mãe levou-me aos Casimiros e comprou-me um
fato para ir bem apresentado.
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E depois fomos a estudar para padre, eu e o Emídio para a Régua e tu para
Mogofores. E a pena que teve a D. Amélia por o António Pitotas também não ir a
estudar, porque, dizia ela, o rapaz ia longe.
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E lembras-te Francisco nas férias, como ajudávamos os nossos pais nas lides
agrícolas
–
Nas férias do Natal era a azeitona. E quando esta acabava, ainda íamos a botar
o estrume às oliveiras, botar a água à regada… Havia o mata-porco, a Missa do Galo,
cantar as janeiras e ala p’ros estudos outra vez. Lembras-te Francisco das
carruagens do gado a que a CP recorria para fazer o trajeto até ao Pocinho,
porque as outras não chegavam! Hoje já não há comboios na linha do Sabor. E que
houvesse! Jã não há meninos para transportar
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No Carnaval vestíamo-nos de Caretos, eu tu e o Emídio, e íamos às casas dos
familiares a meter medo! Lembras-te em casa da tia Melânia, sermos quase
corridos, por não nos ter conhecido, e que quando tirámos a máscara nos tratou
como príncipes!
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Lembras-te Francisco, do Entrudo, com os homens todos pelo povo atrás do boneco
de palha, a tisnar tudo com cinza, e dos barulhos que sempre havia por se
emborracharem.
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Nas férias da Páscoa, havia que desmamonar a vinha, cavar marradas da lavra das
oliveiras, tirar-lhe os bravos do toro…
E assim nos criámos e nos tornámos homens!
(Publicado
no Fórum de Brunhoso em 12 de maio de 2006)
António
Magalhães
Tio quem é o francisco???? bj. Xinha
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