quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Lembras-te Francisco?

No Paraíso… em Brunhoso 

A casa das feiticeiras

Ao meu bom amigo Francisco Ribeiro, como um irmão. 

Subimos juntos, ou pelo menos à vista, as ladeiras da vida. 

- Lembras-te Francisco, quando éramos tão piquenos e íamos com as vitelas por esse termo fora à procura do fnanco para elas comerem! 

 - Lembras-te de irmos para a Malhada, para Francos, para a Lagariça! Sempre atrás delas e aguardá-las para não irem a fazer mal aos lameiros, onde se estava a criar a erva para o feno!

 - Lembras-te de só as deixarmos comer a erva das bordas dos trigos da Malhada. 

 - Lembras-te Francisco quando entrámos à escola, com a saquitinha com a lousa, o giz e os livrinhos. Logo no primeiro dia fiquei de castigo porque no Livro da 1ª Classe tinha as figuras do cão, do gato …, e quando abri o livro comecei logo a imitar as vozes desses animais. Ão, ão … miau, miau… quá-quá! Isto tudo maravilhado e alto e bom som, o que provocou a risada geral da escola da professora Fernanda, da sala dos rapazes. E quando perguntou, que animal é este, e em coro todos respondemos – É um parreco! E ficámos todos de castigo, porque era um pato, é assim que se devia dizer! 

E da novidade da retrete, lembras-te Francisco! 

 - Lembras-te Francisco, quando faleceu o Sr. Padre Zé, que fomos em cruzada até Soutelo ao seu enterro! Lembras-te quando lhe ajudávamos à missa e nos responsos nos dava sempre uns tostõezinhos para arrebuçados! 

E na catequese com a Teresa Piquena! Lembras-te Francisco? - Lembras-te da segunda classe com a Dona Carminda, que a meio do ano nos deixou para ir para a África. Lembras-te Francisco da Dona Adriana, tão brava, que a veio substituir e uma vez nos marcou os deveres da tabuada – Uma vez a tabuada do um, duas vezes a tabuada do 2, três vezes a tabuada do três e sucessivamente… 

 - Lembras-te Francisco, da régua e da vara da Dona Amélia… E daquela surra que deu ao Joaquim Coleila, por não saber, já não sei o quê! E do Joaquim Pitreca, que também levou tantas vezes, sem falar do falecido António Miguel, do António Pitotas, do Francisco Marcos, do António Garruncha, só para falar dos da nossa idade! Lembras-te do Francequinho Cordeiro, do Emídio, como éramos tão pequeninos e já levávamos pela medida grossa. - Lembras-te Francisco quando íamos à Serra a esperar a professora! E quando plantámos as árvores no recreio, que algumas ainda hoje lá estão (agora já não há meninos na escola de Brunhoso)!

- Lembras-te Francisco, quando antes das nove horas, no tempo das castanhas, irmos à Serra a dar a volta e apanhar as castanhas que havia no chão. E que quando aparecia a Guarda, todos fugíamos para o povo, apesar de andarmos nos nossos castanheiros e por conseguinte não andarmos a roubar.

- E quando fizemos a quarta classe, que fomos à vila, a cavalo nas bestas. E no intervalo de duas provas, a minha mãe levou-me aos Casimiros e comprou-me um fato para ir bem apresentado.

- E depois fomos a estudar para padre, eu e o Emídio para a Régua e tu para Mogofores. E a pena que teve a D. Amélia por o António Pitotas também não ir a estudar, porque, dizia ela, o rapaz ia longe.

- E lembras-te Francisco nas férias, como ajudávamos os nossos pais nas lides agrícolas

– Nas férias do Natal era a azeitona. E quando esta acabava, ainda íamos a botar o estrume às oliveiras, botar a água à regada… Havia o mata-porco, a Missa do Galo, cantar as janeiras e ala p’ros estudos outra vez. Lembras-te Francisco das carruagens do gado a que a CP recorria para fazer o trajeto até ao Pocinho, porque as outras não chegavam! Hoje já não há comboios na linha do Sabor. E que houvesse! Jã não há meninos para transportar

- No Carnaval vestíamo-nos de Caretos, eu tu e o Emídio, e íamos às casas dos familiares a meter medo! Lembras-te em casa da tia Melânia, sermos quase corridos, por não nos ter conhecido, e que quando tirámos a máscara nos tratou como príncipes!

- Lembras-te Francisco, do Entrudo, com os homens todos pelo povo atrás do boneco de palha, a tisnar tudo com cinza, e dos barulhos que sempre havia por se emborracharem.

- Nas férias da Páscoa, havia que desmamonar a vinha, cavar marradas da lavra das oliveiras, tirar-lhe os bravos do toro…

E assim nos criámos e nos tornámos homens!

(foto de Walter Pires)

(Publicado no Fórum de Brunhoso em 12 de maio de 2006)

António Magalhães


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