sábado, 5 de junho de 2010

Muros… Idem

ACONTECE…


Numa destas semanas de 2010, em virtude da minha vida profissional, estive envolvido na certificação de Técnicos de Obra, ditos Encarregados de Obra na área da Construção Civil.
Tudo correu normalmente, como seria de esperar, com os candidatos a mostrar em provas os saberes adquiridos nas formações que tinham frequentado para o efeito.

A peripécia que deu azo a esta crónica aconteceu numa das últimas provas em que a uma pergunta sobre que tipos de muros conheciam, os candidatos, quase todos, respondiam:
- Muros de alvenaria ou pedra
- Muros de betão armado
- Muros de betão ciclópico
- Idem (ou muros idem como alguns diziam).

Quando apareceu a primeira resposta a indicar os Muros Idem, estranhámos, mas enfim, acontece. Na segunda vez, pensámos que teria copiado, apesar da nossa vigilância. Consultada a planta de ocupação da sala, verificámos que os dois lugares não eram contíguos, pelo que não devia ter sido isso que aconteceu.
Mas em quase todas as provas em que aquela pergunta tinha sido respondida, lá aparecia invariavelmente a designação dos Muros Idem. Copianço generalizado não nos parecia, dado que só acontecia nessa pergunta, que nem era das que tinham mais valor e estava no meio do teste. O que é podia explicar aquela situação? Sem resposta para o caso, continuámos nas avaliações das provas.

No final das provas e após termos feito as correcções, fui convidado, tal como os formadores do curso, para o jantar do grupo. Agradecida a simpatia, por ser já bastante tarde e ter de jantar nessa localidade a cerca de cem quilómetros do Porto, aceitei o convite.

Já no restaurante, enquanto saboreávamos os acepipes das entradas, pediram-me a opinião acerca do curso que acabávamos de avaliar.
Respondi que me parecia que se tinham esforçado e que se notava que tinham estudado. Disse também que me parecia que algumas matérias tinham sido decoradas mas não percebidas. Dei como exemplo a singela pergunta dos tipos de muros que conheciam e que estranhava que quase todos tivessem referido os ais Muros Idem. Para mim que ando há mais de trinta anos ligado à construção, informei ironicamente que não conhecia aqueles muros, nem nunca tinha ouvido falar.
E continuei as minhas opiniões que não são para aqui chamadas.
E continuei a mordiscar no presunto.
Os formadores também acharam estranho aquela coisa dos idem, não sabendo identificar a razão para aquele disparate. Falou-se de outras situações em que se perguntam determinadas características deste ou daquele produto e que no final se escreve etc para rematar a resposta. Sugeri que quando são várias as coisas a indicar, a resposta ficará mais completa se escrevermos duas vezes o etc. E etc, etc…

Estávamos nestes conluios, quando um dos formandos, impante e com cara de quem tem toda a razão deste mundo e do outro, me apresentou uma cópia do livro por onde tinha estudado. E lá aparecia a figura de um muro com a legenda Idem.

Analisada a página verifiquei que os vários tipos de muros eram ilustrados com fotografias. Como havia duas fotografias contíguas de muros de betão, a legenda da primeira indicava muro de betão e na outra o autor, para não repetir a legenda, escreveu idem!
Estava desfeito o enigma dos muros idem!
Como tinha deixado antever na crítica dos saberes adquiridos, pude confirmar que algumas matérias tinham sido estudadas, mas quase parecia que tinham sido coladas com saliva.

Para todos os formandos desse curso e respectivos promotores e professores, daqui envio um grande abraço.



FIM


Leça do Balio, 6 de Junho de 2010


António Magalhães

1 comentário:

  1. Eh, eh, eh... Só podia ser algo do género!
    Na última vez que dei aulas, na Escola Secundária Dr Ramiro Salgado, em Moncorvo, calhou-me a vigilância de um exame do 10.º ano, que, por coincidência, haveria de ser eu a corrigir (uma das turmas era minha). Esforcei-me ao máximo para evitar copianços. Fui um autêntico guarda prisional. Para trás e para a frente. Sem desarmar. No final do exame pensei: missão cumprida. Ninguém copiou.
    Quando comecei a corrigir os exames, qual não é o meu espanto quando deparo com uma prova a que tinha atribuído a nota de 18 e a confiro com o nome do aluno. O gajo mal sabia escrever, quanto mais tirar um 18!
    O que é certo é que tive que o passar. Na frequência tinha-lhe dado 5. Mas a nota final era a média das duas notas.
    Fiquei siderado. No final do ano encontrei-o e perguntei-lhe que técnica tinha usado. Limitou-se a rir à gargalhada...

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